Algumas sugestões de filmes da 45ª Mostra

22.10.2021
Por H. Hirao

A 45ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo está em sua primeira semana. Esse ano, a Mostra está estimulando a volta dos cinéfilos aos cinemas. Há filmes que serão exibidos somente nos cinemas e outros que serão exibidos tanto nos cinemas quanto na plataforma Mostra Play.

Não é necessário, mas recomendo que baixem o aplicativo para ver a programação, comprar ingressos antecipados ou adquirir um pacote de ingressos: https://45.mostra.org/jornal-da-mostra/aplicativo-da-45a-mostra-ja-esta-disponivel-para-download

No site da Mostra é possível encontrar mais informações dos filmes, fotos, trailer, sinopse e ficha técnica, além da programação completa. O endereço é https://45.mostra.org/filmes.

Listo abaixo algumas sugestões de filmes.

Má Sorte no Sexo ou Pornô Acidental (Babardeală Cu Bucluc Sau Porno Balamuc). Direção de Radu Jude. Romênia / Luxemburgo / República Tcheca / Croácia, 2021, 106 minutos.
A Romênia tem feitos filmes muito inventivos, com um humor peculiar misturado a temas dramáticos. O filme começa com cenas de sexo explícito, que até assustam o público desavisado. São cenas que, por descuido, foram parar na internet. O problema é que a fogosa protagonista é professora de uma escola. Dividido em 3 partes, a primeira pode ser um pouco repetitiva, mas aguente até a segunda parte, uma espécie de dicionário, com termos e explicações hilariantes. Os verbetes apresentados nesse dicionário serão retomados na terceira parte, que mostra o julgamento da professora. Um filme delicioso que mistura hipocrisia, intolerância e preconceito com boas doses de humor e um final absurdamente inesperado.


Dois filmes que tratam a morte sob duas visões distintas:
Armugan. Direção de Jo Sol. Espanha, 2020, 90 minutos.
A Cordilheira dos Pirineus separa a França da Espanha. Perdido nessa paisagem montanhosa, vive Armugan, um homem com o corpo atrofiado, dependente de Ánchel para se locomover. Ele tem um trabalho ao mesmo tempo respeitado e temido pelos poucos moradores da região. Ele é o “doula do fim da vida”, ou seja, ele ajuda e conforta as pessoas nos últimos instantes de vida. Impressionante pela beleza da fotografia em preto e branco, o filme é falado em aragonês, com poucos diálogos em espanhol. 


O outro filme sobre a morte é o documentário Lidando com a Morte (Dood in de Bijlmer). Direção de Paul Sin Nam Rigter. Holanda, 2020, 74 minutos.
Anita é uma empresária que quer construir uma moderna e ampla funerária. O local escolhido é Bijlmer, um bairro periférico de Amsterdã, habitado por diversas comunidades de imigrantes, ou seja, cada povo com sua religião, seus ritos e costumes para homenagear seus mortos. O filme acompanha Anita nas pesquisas para adequar os rituais à arquitetura. O público vai aprendendo com ela, mas logo percebemos que conciliar tradições tão diferentes pode ser uma tarefa complicada. A morte aqui é vista como um negócio, que deve dar lucro aos empreendedores. E fica a pergunta: será que o bairro precisa desse “elefante branco”?


Os Inventados (Los Inventados). Direção: Leo Basilico, Nicolás Longinotti e Pablo Rodríguez Pandolfi. Argentina, 2021, 90 minutos.
Um filme argentino sem o Ricardo Darín! Lucas é um ator iniciante, que participa de audições, batalhando por qualquer papel. Ele resolve participar de um workshop de atuação ministrado por conceituado professor de artes cênicas. São cinco atores isolados em uma casa no campo. O único exercício proposto consiste em cada um criar um personagem e permanecer nele até o final. Com toques de realismo fantástico e metalinguagem, é um filme perturbador, que nos deixa com mais dúvidas do que certezas.


As Bruxas do Oriente (Les Sorcières de l’Orient). Direção: Julien Faraut. França, 2021, 100’.
Documentário que resgata a história da invencível seleção japonesa de voleibol feminino, formada no final da década de 1950 e campeã nas Olimpíadas de Tóquio de 1964. A fama dessa equipe atravessou as décadas seguintes e eu me lembro de meus pais falarem da rigidez do treinador, que era militar, que forçava as atletas a treinarem até a exaustão, beirando a tortura física e emocional. Isso tudo está nesse documentário francês, que reúne algumas das jogadoras em depoimentos relembrando aquela época. Montado como um filme japonês da década de 1970, mistura cenas atuais, imagens de arquivo, trechos de uma animação popular que reforçou o mito do time. Mas fica repetitivo no trecho final, ao usar a mesma cena do animê várias vezes.


O Garoto mais Bonito do Mundo (The Most Beautiful Boy in the World). Direção de Kristina Lindström e Kristian Petri. Suécia, 2021, 94 minutos.
Para muitos de nós, cinéfilos e cinéfilas, o clássico Morte em Veneza (1971) é considerado o melhor filme do mestre Luchino Visconti. Alguém já parou para pensar: que fim levou aquele menino, chamado Tadzio no filme, por quem o velho músico se apaixona platonicamente? Pois aqui está a resposta. 50 anos depois da obra-prima de Visconti, o documentário encontra o ator Björn Andrésen, vivendo precariamente num pequeno apartamento, à sombra daquele personagem que o tornou um astro da noite para o dia. A dificuldade de lidar com a fama meteórica lembra muito o caso de Fernando Ramos da Silva, que ficou famoso no papel-título de Pixote (1980), no filme de Hector Babenco. Obviamente, guardadas as diferenças entre o ator sueco e o jovem brasileiro. Um momento que me deixou de queixo caído foi descobrir que Björn Andrésen faz uma ponta no horror Midsommar: O Mal não Espera a Noite (2019).


O Compromisso de Hasan (Bağlilik Hasan). Direção: Semih Kaplanoğlu. Turquia, 2021, 147 minutos.
Belíssimo filme do mesmo diretor que fez a trilogia Mel (2004), Ovo (2007) e Leite (2008). Hasan é um agricultor turco muçulmano. Como todo mundo, ele tem seus problemas, precisa cuidar de seus interesses, sua família, seus empregados, suas terras. Até que ele e sua esposa são selecionados para participarem de um grupo de peregrinação à Meca. Porém, para pisar em solo sagrado, as pessoas não podem levar seus pecados, é preciso que Hasan faça um exame de consciência e pedir perdão e reconciliar com seus amigos e familiares. Imperdível, um destaque especial para a atuação de Umut Karadag no papel de Hasan. Se possível, assistam no cinema, em tela grande para não perder nenhum detalhe das imagens de tirar o fôlego.


Sr. Bachmann e seus Alunos (Herr Bachmann und seine Klasse). Direção de Maria Speth. Alemanha, 2021, 217 minutos.
Eu sei que há vários professores e profissionais de educação que fazem parte do Grupo Cinema Paradiso. Então recomendo esse documentário sobre um professor de adolescentes na Alemanha. Seus alunos são imigrantes ou filhos de imigrantes, portanto, alguns deles ainda sentem dificuldade em se expressar em alemão. O professor, sr. Bachmann, ensina alemão, música, artes, matemática, entre outras disciplinas. É, ao mesmo tempo, rígido e compreensivo, segue um método mais liberal, mas também precisa dar provas e notas. Não se assustem com a duração de 3 horas e 47 minutos – é o filme mais longo dessa Mostra. O filme flui bem, acompanhamos com interesse um ano letivo dessa turma e, ao final, já conhecemos cada aluno, seus dramas e dificuldades, e até queremos mais, ficamos curiosos para saber como a vida vai tratar esses jovens. Lembra o documentário francês Ser e Ter (2002), de Nicolas Philibert.


Boa Mostra a todos!
H.Hirao

1 comentários:

diva reale disse...

Um benção estas dicas. Talvez me ajudem a conseguir ver ao menos um
Folme da mostra Hirao! Grata!! ����