Filmes brasileiros e da América Latina valem ingresso

Artigo de 31.01.2015
por João Moris

Quantos filmes brasileiros você assistiu nos cinemas o ano passado? E quantos filmes de outros países latino-americanos? Você fez as contas? A boa notícia é que a cada ano aumenta o número de filmes brasileiros lançados comercialmente nos cinemas do País. Em 2014, não foi diferente. Dos mais de 450 filmes lançados o ano passado no Brasil, 183 foram filmes brasileiros. O lado negativo é que a grande maioria não foi assistida ou não teve público. Um dos motivos é que muitos filmes são lançados em horários ruins e ingratos e em poucos cinemas, o que é lastimável. Mas, estatisticamente, se descartarmos a metade destes filmes como sendo “uma bomba” ou “inqualificáveis”, ainda assim teríamos 90 filmes com chances de serem bons ou prazerosos ou, ao menos, com potencial de experimentarmos algo novo ou diferente, o que por si só já valeria o ingresso. Assim foi para mim. Além dos “medalhões” do ano (Hoje Eu Quero Voltar Sozinho, Praia do Futuro, O Lobo Atrás da Porta, Getúlio, para ficar apenas nos filmes de ficção que considerei bons ou ótimos e sem incluir as comédias “globais”), tive grandes recompensas assistindo a filmes brasileiros que ousaram na linguagem e na forma, tais como Eles Voltam, De Menor, Apneia, Riocorrente, O Homem das Multidões, O Menino e o Mundo, O Menino no Espelho, Uma Dose Violenta de Qualquer Coisa e Ventos de Agosto, além de documentários como Sem Pena, 70, À Queima Roupa e Tim Lopes, que enfiam o dedo nas mazelas do Brasil.
Em escala bem menor, houve grandes destaques dos países hermanos também. Lamentavelmente, foram apenas 19 filmes latinoamericanos lançados no Brasil, a maioria produções de 2012 e 2013. Mas houve filmes interessantes e contundentes, com diversidade de temas, como Gloria (Chile), Heli e Paraíso (México), Pelo Malo (Venezuela), 7 Caixas (Paraguai), Karen Chora no Ônibus (Colômbia), além dos argentinos Relatos Selvagens, O Estudante e Filha Distante, que o nosso colega Alexandre Guimarães analisou com tanta propriedade na edição anterior de Cinema Paradiso. Não passou nenhum filme cubano, infelizmente! Se levarmos em conta apenas os países que mais produzem filmes na América Latina, além do Brasil, ou seja, México, Cuba, Argentina, Chile e Colômbia, teríamos aproximadamente 400 filmes anuais. No Brasil, não passou nem 5% destas produções.


Estes números todos merecem algumas reflexões: por que os filmes brasileiros e latino-americanos são tão mal lançados? Se estes filmes fossem lançados em mais cinemas, inclusive de shoppings, com esquema de distribuição e publicidade mais eficiente, haveria público para eles? Por que os exibidores não se interessam em trazer mais filmes latino-americanos ao Brasil (e vice-versa), uma vez que a qualidade dos filmes do continente latino-americano vem melhorando e ganhando reconhecimento? Será que a lógica do mercado, apenas, explica esse desinteresse? Há ainda preconceito ou restrição em relação a filmes brasileiros e latino-americanos por parte do público frequentador de cinema? Por que o público cinéfilo assiste a tão poucas produções nacionais ou latino-americanas? Será que o cinema do continente latino-americano ainda está estigmatizado por retratos banalizados de pobreza e violência? Deixo aqui estas reflexões, torcendo para que nos estimulem a prestigiar mais filmes brasileiros e de países latino-americanos que, apesar do descaso dos exibidores e da força da máquina de Hollywood, resistem com criatividade. O 41º Festival SESC dos Melhores Filmes de 2014 vem aí. Vamos votar. Tomara que muitos dos bons filmes brasileiros e latino-americanos lançados no ano passado sejam escolhidos e que sejam exibidos nos horários “nobres” do CineSesc repaginado.

João Moris