PRÓXIMO FILME

Reunião presencial em 13/10/2024
 

Golpe de Sorte em Paris
(Coup de Chance), França, EUA, Reino Unido, 2023, 93 min)

O filme estreou em 19/09/24 e pode ser visto em algumas sessões e salas de exibição em São Paulo. Veja nosso guia de programação neste site.
 

Direção e Roteiro: Woody Allen

Elenco: Lou de Laâge (Fanny), Melvil Poupaud (Jean), Niels Schneider (Alain), Valérie Lemercier (Camille, mãe de Fanny)

Sinopse: Fanny e Jean formam um casal ideal. Ela trabalha para uma casa de leilões. Ele é um investidor que fez fortuna com o dinheiro dos outros. Vivem em um grande apartamento de classe alta em Paris e estão apaixonados. Até que, um dia, Fanny reencontra um amigo de escola, Alain, um escritor que confessa que sempre foi apaixonado por ela. Começa, então, um triângulo amoroso.

Sobre o diretor:
Allan Stewart Königsberg nasceu em 1º de dezembro de 1935, no bairro do Brooklin, em Nova Iorque. Filho de comerciantes de classe média, Allan, que nunca fora um aluno brilhante, passou a escrever piadas para alguns periódicos e a se sustentar com o humor. Aos 16 anos, criou o pseudônimo Woody Allen (que ele achara engraçado) para não ser reconhecido por seus colegas de escola. Nunca chegou a concluir nenhum curso universitário. Nos anos 1960, ficou conhecido escrevendo programas de humor e fazendo comédias stand-up. Destacava-se pela qualidade dos diálogos e rapidez com que criava situações e textos engraçados.

Em 1965, foi convidado a participar do roteiro do filme O que é que há, gatinha? e acabou sendo escalado também para o elenco. O filme fez muito sucesso e Woody Allen se popularizou como roteirista e ator. O primeiro filme dirigido por ele foi Um assaltante bem trapalhão (1969) e, desde então, tem realizado, em média, um filme por ano. Seus mais de 50 filmes têm um público cativo no Brasil, mas nos Estados Unidos nem sempre ele é bem quisto, pois revela um humor ácido contra a forma de vida dos norte-americanos. Já foi premiado com alguns Oscar, porém, toda vez que é indicado, não costuma comparecer à premiação, como forma de explicitar seu desprezo pela poderosa indústria cinematográfica de Hoollywood.

Woody Allen constantemente aparece atuando em seus filmes, nem sempre como o protagonista. O personagem que ele representa, ao contrário de muitos outros comediantes do cinema, como Chaplin ou Groucho Marx, não usa qualquer tipo de disfarce. Ele sempre faz o papel de um homem comum, nem feio nem bonito, cheio de defeitos e incertezas, atormentado por tentar alcançar o sentido da vida. Por isso mesmo, seus filmes são universais. Mesmo quando não atua nos filmes, muitas vezes o seu alterego é facilmente identificado, como em Celebridades (1998) ou Meia Noite em Paris (2011), pois é extremamente popular em todos os cantos do mundo.

Embora seja conhecido por suas comédias, que apresentam diálogos cortantes, Woody Allen tem fases diversas em sua filmografia, não só em relação a temas e gêneros, mas também no processo de produção. Fã incondicional do cineasta Ingrid Bergman, realizou alguns filmes considerados “bergmanianos”, densos e intimistas, como Interiores (1978), Setembro (1987) e A Outra (1988). Realizou grandes trabalhos com reconstituição de época como em A Era do Rádio (1987) e o pseudo-documentário (mockmentary) Zelig (1982) (esse. Em relação à produção, embora tenha conseguido razoável independência, o diretor ligou-se à Dreamworks – produtora de Steven Spielberg – entre os anos de 2000 e 2003, realizando algumas comédias de sucesso como Trapaceiros (2000), O Escorpião de Jade (2001) e Dirigindo no Escuro (2002), que não agradaram à crítica especializada. Neste último – em que ele é um diretor de cinema que fica cego e realiza um péssimo filme – fracasso de público e crítica – Woody Allen antecipa sua fase seguinte, ao dizer: “ainda bem que existem os franceses que entendem os meus filmes”. Essa brincadeira, na verdade, revela o cinema no qual ele acredita: o cinema autoral, isto é, em que o diretor deixa sua marca, como é predominante na cinematografia europeia. Nos EUA, desde os primórdios do cinema, são raros os diretores que conseguiram autonomia em relação aos produtores, os chamados diretores do cinema independente norte-americano, em oposição à forte indústria cinematográfica dos EUA.

Apaixonado assumido pela cidade de Nova Iorque, sempre faz homenagens à beleza e à efervescência cultural de sua cidade natal, como no filme Manhattan (1979). Assim mesmo, realizou grandes filmes na Europa: Match Point (2005 – Inglaterra, produção britânica), Vicky Cristina Barcelona (2008, Espanha/EUA), Meia-noite em Paris (Midnight in Paris, 2011, Espanha/EUA), Para Roma, com Amor (To Rome with Love, 2012, Espanha/EUA/Itália) .

Depois, voltou a filmar nos EUA: Blue Jasmine (2013), Magia ao Luar (Magic in the Moonlight, 2014), O Homem Irracional (Irrational Man, 2015), Café Society (2016), Roda Gigante (Wonder Wheel, 2017), Um Dia de Chuva em Nova York (A Rainy Day in New York, 2019). Volta a fazer filmes na Europa com O Festival do Amor (Rifkin’s Festival, 2020, EUA/Espanha e Itália) e agora Golpe de Sorte em Paris (Coup de Chance, EUA/França e Reino Unido, 2023). Golpe de Sorte em Paris é seu primeiro filme em língua não inglesa.

Woody Allen cria um forte diálogo com as outras forma de arte, como a literatura, artes plásticas e teatro. Em seus filmes, a criação artística é sempre um tema de relevância e, entre seus protagonistas, muitos são escritores, dramaturgos, atrizes, donas de galeria de arte, cineastas. Em Tiros na Brodway (1994), o protagonista está sem inspiração para terminar o roteiro de sua peça de teatro e é salvo pelas ideias do segurança do gângster que produz a peça. Em Desconstruindo Harry (1997), ele mesmo interpreta um escritor com bloqueio criativo. Em Poucas e Boas (1999) o protagonista é um músico de jazz. Em muitos filmes, faz homenagens explícitas ao cinema, como em Neblina e Sombras (1992), em que ele recria toda a ambiência do expressionismo alemão. Em Poderosa Afrodite (1995), o alerta às atrapalhadas do protagonista é dado por um grupo de teatro grego. Em Match Point (2005) a história conversa o tempo todo com Crime e Castigo de Dostoiévski.

Com o filme A Rosa Púrpura do Cairo (1985), ele fez, senão a maior, uma das maiores homenagens ao cinema já realizadas. A história de Cecília que busca no cinema a válvula de escape para seus problemas cotidianos – a ponto de entrar na tela – é uma de suas obras primas. Outra das suas obras que brinca com o cinema, a partir da metalinguagem, temos Melinda e Melinda (2005), uma discussão sobre o drama e a comédia que acaba sendo uma aula de roteiro.

Outra marca de Woody Allen é a música. Com exceção de Match Point (2005) em que ele nos leva para o mundo da ópera, o diretor escolhe sua trilha sonora com o melhor do jazz clássico. Ele, que também é músico (toca clarineta em um clube de jazz em Nova Iorque), faz uma ponte para que muita gente, a partir de seus filmes, passe a se interessar por jazz.

Toda a sua filmografia é criativa, diversificada e, indiscutivelmente, rica em temas e expressões artísticas. Mesmo entre seus fãs, alguns de seus filmes são considerados melhores que outros. Qual seria sua obra prima? A Rosa Púrpura do Cairo (1985)? Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977)? Manhattan (1979)? Hanna e suas Irmãs (1986)? Parece que essa é uma pergunta impossível de ser respondida, como se viu, por exemplo, com o sucesso de crítica e público de Meia-noite em Paris (2011). Inspiradíssimo, neste filme ele mobiliza todos os ícones dos anos 20, da literatura às artes plásticas, para falar de sonho e utopia. Como Chaplin, ele fala de temas extremamente sérios em tom de comédia.

O que parece consenso é que Woody Allen realizou muitas obras primas e alguns filmes considerados “menores”, mas mesmo estes são filmes muito melhores que a maioria exibida nos cinemas. Woody Allen ganhou a Palma de Ouro em Cannes, em 2002, pelo conjunto de sua obra.

O “cancelamento”. Em 1992, Woody Allen e Mia Farrow protagonizam uma das maiores brigas públicas da história do cinema. Mia descobre que Woody Allen namorava sua filha adotiva Soon-Yi_Previn (com quem está casado há 27 anos e tem duas filhas). Entre as brigas no tribunal, surge a denúncia de que ele teria abusado de sua filha Dylan, então com 7 anos de idade. A briga dividiu o mundo, apesar de não haver provas contra ele e ele sempre declarar sua inocência. Em 2018, o caso voltou à tona, já em um contexto mais polarizado. Woody Allen perdeu financiamento, foi abandonado por anunciantes. Vários atores e atrizes que trabalharam em seus filmes (e fizeram muito sucesso) se declararam arrependidos. Allen contornou a situação voltando a filmar na Europa e, apesar de tanto imbróglio, mantém-se relevante da História do Cinema Mundial. O Grupo Cinema Paradiso sempre separou essas acusações de sua obra e discutiu boa parte de sua filmografia.