Sufragistas, a luta por direitos

29.12.2015
por Tania Regina Pinto


Profundamente triste, talvez ou principalmente porque aborde fatos da vida real de ontem, de hoje e de amanhã. Maravilhoso na sua força. Empoderador. “Suffragette” ou “As Sufragistas”, drama britânico da diretora Sarah Gavron, escrito por Abi Morgan, conta a luta das mulheres para existirem na primeira pessoa do plural e do singular, nas primeiras décadas do século passado. 

Entre as sufragistas, alguns homens e mulheres de todas as classes sociais. Mas a escolha do filme é mostrar como este movimento conquistou as mulheres da classe trabalhadora, tirando da invisibilidade figuras que não escreveram suas biografias, como Maud Watts (Carey Mulligan), empregada desde a infância em uma lavanderia industrial, onde sempre foi abusada pelo patrão, esposa e mãe. 

Maud não lutava pelo direito ao voto feminino, mas por estar no lugar errado – ou certo – tornou-se vítima da brutalidade do sistema legal da época, foi presa e percebeu-se sem qualquer direito, inclusive sobre seu filho e sua casa. Assim, ela vai da passividade à revolta. 

O longa se concentra na Londres de 1912, quando o movimento sufragista do Reino Unido decide abandonar seu caráter pacífico, que pautou a atuação das mulheres desde o século XVIII. Com o slogan, “ação vale mais que palavras”, nesta nova fase, as mulheres assumem a radicalização, como único caminho possível, para serem vistas e ouvidas. E não deixam por menos: atacam de vitrines a casa de ministro, com pedras e explosivos. 

Há menos de um século, as mulheres conquistaram o direito civil básico de votar – no Brasil, há pouco mais de 80 anos! E – pasmem – na Arábia Saudita, as mulheres começaram a votar em 2015!!! 

O filme escancara, linha a linha, quando o voto feminino começou a ser exercido no mundo em que vivemos e surpreende, ainda, ao indicar que na progressista Suíça, por exemplo, tal direito só foi legalizado em 1971!! 

“As Sufragistas” recria e revela, em detalhes, as condições de trabalho e moradia impostas às populações proletárias do Reino Unido. E deixa a descoberto a discriminação: mulheres são desequilibradas, não são confiáveis, não têm direito a guarda dos filhos, não podem administrar os próprios bens, não podem denunciar assédio sexual, ganham menos que os homens e trabalham mais horas, não podem votar. Mulheres não são cidadãs! Mas, não nos enganemos, muitas nem se importam!


Informação fundamental 

Século XXI. Muita coisa aconteceu. Muita coisa não aconteceu, ainda. Tal constatação deveria ser suficiente para “As Sufragistas” ocupar um maior número de salas de cinema e ser indicado como filme obrigatório nas nossas escolas. 

As consequências de se nascer com o sexo biológico feminino precisam ser estudadas. Isso é urgente! A sociedade, as pessoas, não podem perder de vista a história. Todos precisam crescer, educar-se, tendo consciência das as lutas que foram empreendidas. Ainda estamos a caminho, como gênero e como humanidade. 

Pensar que tivemos de morrer e fomos encarceradas por querer votar, ter e poder fazer leis igualitárias há menos de100 anos é fundamental para aproveitarmos melhor a vida que temos hoje, o direito ao voto que temos hoje. Ir às urnas é conquista que valeu a vida e a liberdade de muita gente. 

“As Sufragistas” não pretende dar uma aula de história nem esgotar todas as questões referentes ao movimento em pouco mais de duas horas de filme, mas sem dúvida conecta passado e presente, faz sentir e refletir. 

O movimento sufragista no Reino Unido começou em 1897, com a fundação da União Nacional pelo Sufrágio Feminino pela educadora britânica Millicent Fawcett (1847-1929). O que se questionava, à época, era o fato de as mulheres serem consideradas capazes de assumir postos de importância na sociedade inglesa como, por exemplo, a direção de escolas e o trabalho de educadora, mas serem vistas com desconfiança para votar, cuidar de seu salário, de seus filhos, de sua vida. 

No filme, a líder britânica Emmeline Pankhurst (1858-1928), vivida pela atriz Meryl Streep, em um rápido discurso, contagia ao transmitir a urgência de seguirmos com nossa luta por direitos. As manifestações que levaram à conquista do voto feminino na Inglaterra - com restrições em 1918 e aberto a todas as mulheres em 1928 - renova em cada um a necessidade de seguir buscando igualdade no existir. 

Emmeline Pankhurst (1858-1928) fundou a União Social e Política das Mulheres (Women's Social and Political Union - WSPU). Foi a militante que imprimiu um estilo mais enérgico ao movimento, que culminou com situações de confronto entre sufragistas e policiais até a morte da militante Emily Wilding Davison (1872-1913), que se atirou à frente do cavalo do rei da Inglaterra no célebre Derby de 1913, tornando-se a primeira mártir do movimento.

Anjos Rebeldes 

Inglaterra e Estados Unidos foram os pontos de partida das campanhas para garantir às mulheres o direito de votar em eleições políticas. Mas o primeiro país a permitir o voto feminino foi a Nova Zelândia, em 1883, graças ao movimento liderado por Kate Sheppard. 

“Angels” ou “Anjos Rebeldes”, de 2004, dirigido por Katja von Garnier, é outro filme que retrata a luta sufragista, mostrando a ação das norte-americanas. 

Mas no mundo muitas de nós não votam, ainda. Muitas de nós somos desrespeitadas, violentadas no nosso existir, ainda. Muitas de nós não temos direito à própria vida, ainda. E quando uma mulher, uma pessoa, um ser humano é desrespeitado, não tenhamos dúvida, todos e todas estamos sendo desrespeitados e desrespeitadas. Daí a atualidade, em pleno século XXI, de uma antiga palavra de ordem: A LUTA CONTINUA!

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