Café Society - Uma comédia sobre os caminhos inusitados que a vida nos proporciona

28.01.2017
por Caio Lamas

Woody Allen dirigindo Jesse Eisenberg e Kristen Stewart no filme Café Society

Café Society, o mais recente filme do octogenário diretor Woody Allen, é um presente para seus admiradores. Após o irregular O Homem Irracional (2015), Allen foca a trama de seu mais novo filme nos anos 1930, período conhecido como a Era de Ouro de Hollywood. Nessa década e na subsequente foram lançados os grandes clássicos do cinema norte-americano: ...E O Vento Levou, O Mágico de Oz, O Morro dos Ventos Uivantes, Casablanca, entre outros.

A trama de Café Society conta a história de Bobby Dorfman (Jesse Eisenberg, de A Rede Social), um jovem judeu desempregado que se muda de Nova York para Los Angeles em busca de novas oportunidades de trabalho. Ele vai atrás de seu tio, Phil Stern (Steve Carell), um importante e bem sucedido agente e produtor de Hollywood. Phil apresenta o sobrinho à sua secretária, Vonnie (Kristen Stewart), por quem Bobby se apaixona. O problema é que Vonnie já tem um relacionamento e a partir daí se delineia um triângulo amoroso que resulta no casamento da jovem com o outro pretendido. Decepcionado, Bobby resolve retornar a Nova York e passa a administrar uma boate de luxo junto com seu irmão, Ben (Corey Stoll). 

Para mim, fica evidente a homenagem que Allen faz a estrelas do período, como Ginger Rogers, Fred Astaire e Gary Cooper. As festas elegantes e requintadas de Hollywood, bem como as noites glamourosas na boate em Nova York, contam com um impecável figurino de época, além da bela fotografia, frequentemente puxada para tons de sépia, que perpassa todo o filme. 

Impossível não se divertir com os hilários momentos de alguns personagens que aparecem ao longo do filme: as discussões de Rose Dorfman (Jeannie Berlin), a mãe judia superprotetora de Bobby, com o marido Marty (Ken Stott); o método pouquíssimo ortodoxo de Ben, o irmão mafioso de Bobby, de convencer o antigo dono da boate a lhe ceder o imóvel; os debates acalorados de Leonard (Stephen Kunken), um estereotipado intelectual comunista casado com a irmã de Bobby, Evelyn (Sari Lennick).

O que mais me agradou em Café Society é que, em meio a esse caldeirão de personagens exagerados e a referências da época, Allen consegue construir momentos de fina ironia, fugindo de um final previsível e mostrando que, apesar de todo o glamour, nem tudo é perfeito nos bastidores da noite nova iorquina. Casais que parecem harmoniosos podem, sob os holofotes das festas e atrás dos trajes elegantes, esconder fissuras e segredos dos olhos dos demais. 

Humor, homenagens e desencontros amorosos são costurados por Allen para revelar um mundo fantasioso, romântico, irônico e ao mesmo tempo real, sobre os caminhos inusitados que a vida nos proporciona. 

(*) Caio Lamas é professor, pesquisador de audiovisual, cineducador e participante do Grupo Cinema Paradiso. Artigo com revisão e colaboração de João Moris.


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