Filmes da 41ª Mostra que entrarão no circuito em breve

31.10.2017
por H. Hirao

Entrando nos últimos dias da Mostra, vou mudar o formato desse texto. Farei comentários sobre filmes a que assisti, que já foram adquiridos por uma distribuidora brasileira e contam com legendas em português. São todos filmes de qualidade e com potencial de atrair um bom público.


Uma Verdade Mais Inconveniente
An Inconvenient Sequel: Truth to Power
Direção de Bonni Cohen e Jon Shenk
EUA, 2017, 98 minutos
Em 2006, o documentário Uma Verdade Inconveniente, de Davis Guggenheim, fazia um alerta sobre as mudanças climáticas, acompanhando as palestras de Al Gore, vice-presidente de Bill Clinton entre 1993 e 2001. Agora, dez anos mais tarde, Gore está fisicamente envelhecido, seus cabelos estão brancos, mas seu humor continua o mesmo. Carismático, usando uma linguagem simples, ilustrando o que diz com gráficos, tabelas, vídeos e outros recursos audiovisuais, Gore é convincente e prossegue em sua missão de alertar a população para os perigos da emissão de carbono e do consequente aquecimento global. Dessa vez, há mais cenas dos bastidores, o treinamento para formar novos ativistas ecológicos, chegando até a frustração pela eleição de Donald Trump. Imperdível para quem vive no planeta Terra.
Previsão de estreia: 09/11/17.


Human Flow – Não Existe Lar se Não Há para Onde Ir
Human FlowDireção de Ai Weiwei
Alemanha, 2017, 140’
Esse ano, um dos homenageados da Mostra é o artista chinês Ai Weiwei. Para quem ainda não sabe, a escultura das mãos, entalhadas em mármore branco, que ilustra o cartaz da Mostra é obra dele. O seu documentário mostra um amplo painel dos 65 milhões de refugiados que existem ao redor do mundo. O próprio Weiwei vive atualmente na Alemanha, longe de seu país natal. Pode ser um tema já abordado em dezenas de outros filmes, como o recente Exodus – De Onde Vim Não Existe Mais (2016), de Hank Levine. O diferencial fica por conta do olhar de um artista como Weiwei. O primeiro plano do filme, uma imagem captada por um drone, mostra o mar visto do alto, bem do alto, um azul profundo, sobre o qual uma gaivota, pequenininha, quase um pontinho branco, cruza a tela. O segundo plano mostra um barco lotado de refugiados desafiando o mar. A gaivota e o barco de refugiados. A união dessas duas imagens é de arrepiar! Human Flow é uma superprodução em se tratando de documentário, filmada em 23 países, durante 1 ano, usando os mais modernos recursos de captação de imagens. Só faltaram imagens na América do Sul. Essencial para os seres humanos.
Previsão de estreia: 16/11/17.


A Trama
L’Atelier
Direção de Laurent Cantet
França, 2017, 114 minutos
É verão no sul da França. Na cidade litorânea de La Ciotat, os estudantes estão de férias escolares. Olivia é uma escritora que veio de Paris para ministrar uma oficina para alguns jovens e aproveita o tempo livre para iniciar um novo romance. Pouco a pouco, vamos percebendo a tensão que existe entre eles. Antoine se destaca por ser sempre “do contra”, desafiador, provocador. O problema surge quando as palavras de Antoine se transformam em atos.
Se os alunos representam um microcosmo da sociedade – meninos e meninas, africanos, árabes e brancos, alguns são de famílias tradicionais, outros estão na região há pouco tempo –, La Ciotat pode representar a França ou mesmo a Europa. Curiosamente, a palavra ciotat pode ser traduzido como cidade, em occitânico ou provençal. La Ciotat teve períodos prósperos no passado mas, no momento, passa por uma crise após o fechamento de um grande estaleiro. A família dos irmãos Lumière, criadores do cinematógrafo, possuía uma casa de veraneio em La Ciotat. O primeiro filme da história do cinema chama-se L’Arrivée d’un train en gare de La Ciotat ou A Chagada de um Trem na Estação de La Ciotat, e foi filmada justamente na estação de trem dessa cidade. Laurent Cantet é o mesmo diretor de Entre os Muros da Escola (2008) e de Retorno a Ítaca (2014) e A Trama é o filme de encerramento da Mostra.
Previsão de estreia: 16/11/17.


O Jovem Karl Marx
Le Jeune Karl Marx
Direção de Raoul Peck
França / Alemanha / Bélgica, 2017, 118 minutos
Em 1843, Karl Marx tinha 26 anos, recém-casado com Jenny von Westphalen, era editor de um jornal de esquerda que foi fechado pelo governo da Prússia. A família Marx mudou-se para Paris. Apesar de frequentar círculos de intelectuais, Marx vivia em condições precárias. Na mesma época, Friedrich Engels, aos 23 anos, filho de um rico industrial, passa um período na direção de uma das fábricas da família na Inglaterra, onde conheceu e ficou chocado com a miséria dos seus trabalhadores. Com precisão histórica, bela recriação de época, o filme foca no período em que Marx e Engels se conheceram e iniciaram a parceria que culminaria na publicação do Manifesto Comunista (1948). Em alguns momentos, as discussões teóricas podem se tornar um tanto cansativas. No final do filme, não percam a montagem de cenas e a canção de Bob Dylan, que levanta a questão: será que hoje, com o comunismo desgastado, a onda de conservadorismo, Trump e companhia no poder, haveria lugar para um neocomunismo? O diretor haitiano Raoul Peck tem uma carreira de 35 anos, mas só ficou conhecido depois que seu documentário Eu Não Sou Seu Negro (2016) foi indicado ao Oscar. Prato cheio para sociólogos, historiadores e, óbvio, comunistas.
Previsão de estreia: 28/12/17.


O Motorista de Táxi
Taeksi Woonjunsa
Direção de Jang Hoon
Coreia do Sul, 2017, 137 minutos
Em 1980, Kim dirige um velho táxi verde-abacate (na época, todos os táxis coreanos tinham essa cor horrível) pelas ruas de Seul, viúvo, apegadíssimo à filha e endividado até o pescoço. Kim está mais preocupado em sobreviver e é alheio à política. Ele “rouba” o passageiro de um colega, de olho no preço da corrida: 100 mil won, sem se dar conta da enrascada em que está se metendo. O jornalista alemão Peter quer ir à cidade de Gwangju para cobrir as revoltas dos universitários contra o governo autoritário. Apesar de tratar de um momento grave da história do país, há uma dose certa de humor, levanta questões sobre ética, lealdade, família, amizade, solidariedade, entre outras. Baseado em fatos, no final há um clipe com o verdadeiro jornalista Peter. É o filme oficial da Coreia do Sul para concorrer ao Oscar de Filme Estrangeiro.
O cinema coreano tem chegado ao Brasil com filmes interessantíssimos, que conseguem, na medida certa, a união entre um cinema autoral com apelo popular, misturando drama e humor, ação e reflexão, realismo e fantasia, como Invasão Zumbi (2016), de Sang-ho Yeon. O ator Song Kang-ho é o Ricardo Darín coreano. Ele atuou em diversos filmes de sucesso como Mr. Vingança (2002) e Sede de Sangue (2009), ambos de Park Chan-wook, O Hospedeiro (2006) e Expresso do Amanhã (2013), ambos de Bong Joon-ho, e esteve recentemente em cartaz no papel-título de O Advogado (2013), de Yang Woo-seok. Imperdível!
Previsão de estreia: 11/01/2018. A cópia exibida na Mostra tinha problemas nas legendas. Tomara que consertem até lá.

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