Dicas do Hirao para a
42ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo

Alguns filmes da 42a edição da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo que gostaria de recomendar.

Sofia
França / Catar, 2018, 80’
Direção / Roteiro: Meryem Benm’Barek
O filme começa com um texto explicando que, no Marrocos, é proibido, por lei, uma mulher dar à luz sem ser casada e a pena é rigorosa. Ou seja, sexo fora do casamento é crime. Sofia é uma garota de 20 anos, solteira, mora com os pais em Casablanca, no Marrocos. Sua família é relativamente abastada. Certo dia, Sofia começa a sentir dores abdominais e é levada ao hospital. Surpresa, ela descobre que está grávida, já em trabalho de parto. Ao revelar que Sofia é solteira, nenhum hospital quer atendê-la. Ela sofre pressão de todos os lados para revelar quem é o pai e regularizar sua situação.
O filme lembra muito o estilo dos filmes iranianos, em que um fato leva a outro e a outro e a situação foge do controle, como o recente Sem Data, sem Assinatura, exibido no circuito comercial. É um filme para se pensar, mas por que o estado tem de se meter na vida sexual das pessoas? Para quem acha difícil que uma mulher não saiba que está grávida, há uma série no canal Discovey chamada apropriadamente Eu não Sabia que Estava Grávida.
Ganhou o prêmio de Melhor Roteiro na seção Um Certo Olhar no Festival de Cannes.

Exibições previstas:
Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca 2, dia 18/10/18 (quinta), às 15h30
Cinearte Petrobras 1, dia 19/10/18 (sexta), às 17h50
Espaço Itaú de Cinema – Augusta 1, dia 21/10/18 (domingo), às 15h45
Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca 1, dia 28/10/18 (domingo), às 22h00
Caixa Belas Artes 1 – Villa Lobos, dia 30/10/18 (terça), às 19h45


Garotos que Gostam de Garotas
Boys who Like Girls

Miehen Malli
Direção / Roteiro: Inka Achté
Índia / Finlândia / Noruega, 2018, 70’
Em dezembro de 2012, na cidade de Nova Déli, Índia, em plena luz do dia, ocorreu um estupro coletivo dentro de um ônibus. A vítima, uma mulher de 23 anos, faleceu duas semanas depois. Até então, pela cultura indiana, a culpa por crimes sexuais recaía na vítima e pouco se discutia sobre o assunto. Dois anos depois, Harish, um homem de 50 anos, criou uma ONG com o objetivo de educar meninos em direção a uma masculinidade saudável, isto é, menos violenta e mais igualitária. Parece lógico: para empoderar as mulheres, é preciso “desempoderar” os homens, não é mesmo? O filme acompanha o adolescente Ved, criado em um lar violento nas favelas de Mumbai. E é gratificante ver como o jovem trata as garotas com respeito, sem deixar de ser masculino.
Esse é um documentário bem tradicional em sua forma, com depoimentos e cenas do dia a dia, mas traz uma nova abordagem para um assunto de extrema importância. O filme também dá alfinetadas na cultura ocidental quando Harish vai para Dinamarca, participar de um encontro mundial de organizações feministas e buscar financiamento para sua ONG. Ele volta frustrado, pois os potenciais investidores querem ajudar projetos que trabalham com mulheres e não com meninos.

Exibições previstas:
Espaço Itaú de Cinema – Augusta Anexo 4, dia 19/10/18 (sexta), às 21h50
Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca 4, dia 20/10/18 (sábado), às 19h50
MIS – Museu da Imagem e do Som, dia 30/10/18 (terça), às 20h45
Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca 5, dia 31/10/18 (quarta), às 15h15


Assunto de Família
Manbiki Kazoku
Direção / Roteiro: Hirokazu Kore-eda
Japão, 2018, 121’
Hirokazu Kore-eda já é um diretor consagrado mundialmente. Dele, o Grupo Cinema Paradiso já discutiu os filmes Depois da Vida (1998), Pais e Filhos (2013), Nossa Irmã Mais Nova (2015) e Depois da Tempestade (2016).
Osamu e seu filho Shota passam uma tarde furtando alimentos e objetos em um mercado. Eles formam uma dupla eficiente e sincronizada. Voltando para casa, encontram uma menina passando frio na rua. Osamu, que tem um bom coração, não suporta a situação e a leva para casa. A esposa de Osamu e outros familiares concordam em cuidar da garotinha. Forma-se um laço familiar entre Shota e a pequena Yuri. Apesar de pobre e sobrevivendo por meio de pequenos crimes, a família de Osamu parece feliz. Afinal o que é família? São as pessoas próximas, que cuidam uns dos outros, que se preocupam pela saúde e segurança de seus membros, não necessariamente as pessoas com ligações sanguíneas.
Mais uma vez, Kore-eda mostra o que faz de melhor: dirige crianças em um sensível drama familiar. Talvez não seja o melhor filme dele, mesmo assim, é uma obra imperdível. Emocionante, esperançoso, desconstrói o estereótipo do Japão hi-tech, rico e próspero, inserindo uma crítica social de forma sutil mas eficiente.
Vencedor da Palma de Ouro no Festival de Cannes e indicado oficial do Japão a uma vaga no Oscar na categoria Filme Estrangeiro.

Exibições previstas:
Reserva Cultural 1, dia 20/10/18 (sábado), às 17h50
Cinesala, dia 21/10/18 (domingo), às 17h45
CineSesc, dia 26/10/18 (sexta), às 18h40
Reserva Cultural 1, dia 27/10/18 (sábado), às 16h00


Como Fernando Pessoa Salvou Portugal
Direção Eugène Green
Portugal / França / Bélgica, 2018, 27’
Esse delicioso e borbulhante curta se passa no ano de 1927, quando Fernando Pessoa ainda era um poeta batalhando para ser reconhecido e trabalhava em um escritório. Seu patrão, empreendedor e visionário, importou dos Estados Unidos um refrigerante novo, a Coca-Louca, apostando no sucesso que fará em Portugal. Ele contrata Fernando para escrever o slogan para a publicidade.
Fiz uma pesquisa e, para minha surpresa, Fernando Pessoa realmente criou a frase “Primeiro, estranha-se. Depois, entranha-se” para a Coca Cola. Tanto a propaganda quanto o refrigerante foram proibidos! Vamos lembrar que a década de 1920 foi o período da Lei Seca nos Estados Unidos e bebidas alcoólicas eram proibidas. A Coca Cola só entrou em Portugal em 1977, 3 anos após a Revolução dos Cravos, que marcou o fim do regime ditatorial do Estado Novo. Embora mostre fatos de 90 anos atrás, é um filme atual ao abordar temas como a arbitrariedade (para não dizer burrice) da censura de regimes autoritários.
Eugène Green já é um cineasta conhecido pelos cinéfilos, foi homenageado e teve uma retrospectiva no Festival Indie em 2014. Seus filmes La Sapienza (2014) e O Filho de Joseph (2016) foram exibidos comercialmente. Ele tem um estilo minimalista, muito particular de dirigir. Os atores são enquadrados de frente e exibem poucas expressões, por isso, quando um olho pisca ou o canto da boca ensaia um sorriso, adquire um significado muito maior. Curiosidade: o diretor aparece rapidamente, de costas, como o pintor do cartaz. Foi exibido no festival de Locarno.

Será exibido como complemento do longa Diamantino:
Reserva Cultural 1, dia 18/10/18 (quinta), às 21h10
Espaço Itaú de Cinema – Augusta 1, dia 19/10/18 (sexta), às 18h50
Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca 2, dia 21/10/18 (domingo), às 15h30


Trem das Vidas ou A Viagem de Angélique
Train de Vies ou Les Voyages d’Angélique
Direção/Roteiro: Paul Vecchiali
França, 2017, 76’
Angélique é uma mulher independente que gosta de viajar de trem. O filme mostra várias dessas viagens, nas quais conhece diferentes personagens, formando uma crônica de sua vida. Um filme curto, de apenas 1 hora e 16 minutos, rápido, com diálogos inteligentes, sérios mas com humor, onde a personagem reafirma seus ideais de liberdade feminina.
Outro diretor bastante conhecido pelos cinéfilos, Paul Vecchiali foi um dos homenageados com retrospectiva na 41ª Mostra, no ano passado. Aos 88 anos de idade, sua filmografia é extensa, mas só foi reconhecida nos anos 2000. Filma com poucos recursos, geralmente histórias de relacionamentos maduros. Seu estilo lembra os dramas intimistas de Éric Rohmer ou do coreano Hong Sang-soo, que também foi influenciado por Rohmer.

Exibições previstas:
Espaço Itaú de Cinema – Augusta 4, dia 25/10/18 (quinta), às 20h10
Cinearte Petrobrás 2, dia 26/10/18 (sexta), às 21h40
Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca 5, dia 29/10/18 (segunda), às 15h15
CineSesc, dia 30/10/18 (terça), às 17h50
MIS – Museu da Imagem e do Som, dia 31/10/18 (quarta), às 15h00


Pedro e Inês: O Amor não Descansa
Pedro e Inês
Direção / Roteiro: António Ferreira
Portugal / Brasil / França, 2018, 120’
Esse é um filme que pode provocar certa confusão ao mostrar simultaneamente a história de 4 “Pedros”, todos interpretados pelo mesmo ator, Diogo Amaral. Seguindo uma ordem cronológica, temos Dom Pedro I, rei de Portugal entre 1357 até sua morte em 1367, século XIV. Não confundir, portanto, com Dom Pedro I do Brasil (esse seria Dom Pedro IV de Portugal). A segunda história ocorre na época atual, tem como protagonista Pedro Bravo, um arquiteto. A terceira história acontece em época indistinta, possivelmente num futuro distópico, em que Pedro Rey faz parte de uma comunidade rural. Ainda há um quarto Pedro que vive em uma clínica psiquiátrica, mudo, alienado da realidade, é ele quem narra o filme como se recordasse a vida dos outros Pedros.
O filme é muito interessante em sua forma de narrar a mesma história, todas as histórias são variações da mesma história: Pedro é casado com Constança, por determinação de seu pai, Afonso, mas se apaixona e tem um caso com Inês de Castro. Destaque para o visual deslumbrante – a fotografia, a direção de arte e os figurinos – de Portugal na época medieval. Professores de História devem conhecer como termina o romance entre Pedro e Inês.
Distribuição da Pandora, deve estrear em breve.

Exibições previstas:
Instituto Moreira Salles, dia 19/10/18 (sexta), às 18h50
Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca 2 (terça), dia 23/10/18, às 17h30
Cine Caixa Belas 1 – Villa Lobos, dia 27/10/18 (sábado), às 19h50
Espaço Itaú de Cinema – Frei Caneca 4, dia 31/10/18 (quarta), às 19h40



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