Não Há Mal Algum

FILME: Não Há Mal Algum
(Sheytan Vojud Nadarad, Irã, Alemanha, República Tcheca, 2020, 152 min)

Reunião dia: 06.12.2020 (reunião virtual)
Nota atribuída pelo grupo:
9,3


Direção e Roteiro: Mohammad Rasoulof

Elenco: Baran Rasoulof, Mahammad Seddighimehr, Mahtab Servati, Zhila Shahi, Kaveh Ahangar, Mohammad Valizadegan, Ehsan Mirhosseini, Shagayegh Shoorian, Alireza Zareparast, e outros.

 

Sinopse: O filme tem como fio condutor uma determinada tarefa estipulada pelo "Estado", que irá permear a história de quatro pessoas comuns.

A câmera fugidia (ou fugitiva?) capta o dia-a-dia dos diferentes personagens, que ora desfilam em paisagens urbanas com pacatas famílias de classe média, ora passam por diálogos mais ou menos ácidos num ambiente claustrofóbico, até embrenharem por matas e desertos, com tomadas amplas e hesitantes. Sobre este pano de fundo, a elaboração e a escolha sobre o que fazer perante a tal tarefa, bem como seus desdobramentos e consequências são reveladas.

O dilema apresentado se costura em gestos, olhares e (in)ações de cada um dos protagonistas (e das pessoas que os cercam), com níveis de tensão variável; e abre para temas como alienação, autoritarismo e responsabilidade (no seu sentido mais amplo e forte). Temas que gestacionam diversas provocações reflexivas, que inquietam não somente o diretor/roteirista, mas também o es(x)pectador:

Como se posicionar quando o que é estabelecido como "legal" não é moral, tampouco ético? Em (ou até) que ponto, a escolha individual pode fomentar e/ou limitar a direção de um projeto supostamente coletivo? Qual o papel e a representatividade do "um a um" na (des)construção de um desígnio aparentemente inquestionável? Nessa trajetória, propositalmente filmada em quatro curtas anônimos, não será difícil identificar (necessárias) reflexões sobre a banalização do mal...

O longa "Não há mal algum" rendeu, dentre outros, o Urso de Ouro em Berlim e também um mandado de prisão ao diretor (que o impediu de receber o prêmio pessoalmente).

 

Sobre o Diretor: Mohammad Rasoulof nasceu em 16 de novembro de 1972, em Shiraz, no Irã. Formou-se em Sociologia pela Universidade de Shiraz e estudou Montagem Cinematográfica na Universidade de Teerã. Começou a trabalhar em curtas e documentários. Seu primeiro longa, O Crepúsculo (2003), ganhou o prêmio de melhor filme no Festival de Cinema de Fajr, no Teerã, e foi exibido em diversos festivais, como os de Locarno e de Montreal. Seu segundo filme, A Ilha de Ferro (Jazireh ahani, 2005), foi selecionado para o Festival de Cannes, entre outros festivais e recebeu vários prêmios. A partir daí, Rasoulof passou a sentir a pressão da censura do governo iraniano. Ele teve dificuldade para obter permissão para filmagem e, muitas vezes, filmou de forma clandestina. Depois de prontas, suas obras não eram exibidas no território iraniano. Provocativo, dirigiu o documentário Baad-e-daboor (2008), sobre a censura no Irã. Keshtzar haye sepid (2009) conta com o cineasta Jafar Panahi como montador. Em 2010, Rasoulof e outras 14 pessoas, inclusive Jafar Panahi, foram presas durante as filmagens de Adeus. Rasoulof foi condenado a seis anos de detenção, mas a sentença foi reduzida para 1 ano. Ele foi liberado após pagar fiança e conseguiu terminar Adeus (Bé omid é didar, 2011). Até então, Rasoulof lançava mão de metáforas, mitologias ou fatos históricos como forma de disfarçar seu posicionamento político. A partir de Adeus, ele se torna mais explícito na crítica ao governo. Mesmo proibido em seu país, o filme participou de vários festivais ao redor do mundo, recebendo diversos prêmios, entre eles, o de melhor diretor na seção Um Certo Olhar do Festival de Cannes. Em seguida, dirigiu Manuscritos não Queimam (Dast-neveshtehaa nemisoosand, 2013), prêmio FIPRESCI em Cannes, entre outros, e A Man of Integrity (Lerd, 2017), novamente premiado na seção Um Certo Olhar, em Cannes. Em setembro de 2017, quando voltava do Festival de Cinema de Telluride, no Colorado, Estados Unidos, seu passaporte foi apreendido no aeroporto de Teerã. Desde então, Rasoulof está oficialmente impedido de deixar o Irã.


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