Rashomon


FILME: Rashomon
(Rashômon, Japão, 1950, 88 min)

 

Reunião dia: 15.08.2021

Nota atribuída pelo grupo: 9,2


Direção: Akira Kurosawa

Roteiro: Akira Kurosawa e Shinobu Hashimoto, inspirado em dois contos do escritor Ryunosuke Akutagawa.

 

Elenco: Toshirô Mifune (Tajomaru), Masayuki Mori (marido), Machiko Kyô (esposa), Takashi Shimura (lenhador), Minoru Chiaki (monge), Kichijiro Ueda (vagabundo), Fumiko Honma e Daisuke Katô.


Sinopse: Rashomon é ambientado no Japão do século 11 e conta uma história brutal: num bosque, um bandido famigerado, Tajomaru (Toshiro Mifune), ataca um nobre samurai (Masayuki Mori) e sua esposa (Machiko Kyo), estuprando a mulher e assassinando o marido. Esse evento é narrado alternadamente por quatro pessoas diferentes: o bandido, a mulher estuprada, um lenhador que testemunhou parte da cena (Takashi Shimura) e o espírito do samurai morto, este último por meio de uma feiticeira em transe mediúnico. Cada um dos relatos difere dos outros. Mais que isso: são versões contraditórias e excludentes. O que é narrado depende do olhar de quem narra, de seu ângulo de visão – de seu “lugar de fala”, para usar uma expressão corrente. (sinopse extraída do artigo de José Geraldo Couto, publicado neste site)

 

Sobre o Diretor:

Akira Kurosawa nasceu em Tóquio, em 23 de março de 1910 e faleceu em Setagaya, em 6 de setembro de 1988 (com 78 anos). Filho caçula de uma família grande, viveu sua infância com simplicidade, num misto de educação rigorosa (do lado do pai) e muito gentil (do lado da mãe). Relatava que seus professores de Arte e de Literatura foram fundamentais para que ele descobrisse seu gosto por literatura e por pintura. Um de seus irmãos foi responsável por apresentá-lo ao cinema. Este irmão se suicidou ainda jovem, fato que o marcou para toda a vida. Embora não passasse por grandes dificuldades financeiras, com 25 anos entendeu que precisava ter independência financeira. Ele tentou ser pintor, mas percebeu que ganharia muito pouco como artista plástico. Não imaginava trabalhar com cinema, mas viu um anúncio de jornal dos Estúdios PCL, procurando pessoas que quisessem tentar a carreira de assistente de direção. Lembrou das conversas sobre cinema com seu irmão e resolveu se arriscar na disputada seleção. O cineasta Kajiro Yamamoto foi quem o selecionou e contou que, embora ele não tivesse nenhuma experiência, impressionou-se com sua cultura geral, especialmente de literatura. Kurosawa foi sempre apaixonado por Dostoiévski, Tolstoi e Hamlet. Yamamoto foi seu primeiro mestre na arte da direção e dos roteiros.
Aos poucos, Kurosawa foi trabalhando como assistente de direção, como roteirista e finalmente em 1943, aos 33 anos, estreou como diretor no filme Sanshiro Sugata. O Japão estava em plena guerra e o controle sobre os temas dos filmes por parte do governo japonês era intenso. Tratava-se da adaptação de um romance que envolvia artes marciais, tema “muito japonês”, como o governo queria. Ele realizou um filme de entretenimento, com roteiro aparentemente simples, mas pôde exercitar sua primeira experiência na direção, dando complexidade aos personagens e inovando no tratamento estético. O filme foi bem-sucedido e teve uma segunda parte, em 1945.
Uma das maiores dores de Akira Kurosawa era não ser apreciado pela crítica em seu próprio país. No início de sua carreira, seus filmes fizeram boa bilheteria nos cinemas japoneses, mas a crítica quase sempre o destruía. Até que em 1950, seu filme Rashomon não foi apreciado pelo público e nem pela crítica, no Japão. Por um acaso, uma organizadora italiana do Festival de Veneza estava no Japão, viu Rashomon e o indicou para o festival. O filme ganhou o Leão de Ouro, depois ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro (na época, foi chamado de Oscar Honorário) e até hoje é considerado uma obra prima. Desde então, muitos dos seus filmes ganharam prêmios significativos, quase sempre fora de seu país.

Akira Kurosawa é reconhecidamente um dos maiores diretores de cinema no mundo, foi mestre da maioria dos grandes cineastas. Considerado perfeccionista na escrita dos roteiros, composição de personagens, direção de atores, realização de storyboards (ele mesmo os desenhava e pintava), ainda assim, durante toda a sua vida profissional, Kurosawa passou inúmeras vezes por dois tipos de tensão: (1) a pressão dos estúdios para equilibrar os orçamentos dos filmes (que costumeiramente extrapolavam o previsto, tanto no valor, como no tempo de realização) e (2) na acusação de abandonar a cultura japonesa, realizando
filmes excessivamente ocidentais. Inúmeras vezes seus filmes iam mal de crítica e de
bilheteria no Japão, mas ganhavam os principais prêmios internacionais.
Em 1970, Kurosawa lançou o filme Dodeskaden (uma maravilha de filme) que não obteve bom resultado de bilheteria no Japão. Sentindo-se pressionado e sem condições de voltar a filmar, porque não conseguia mais financiamento para seus filmes, ele tenta o suicídio em dezembro de 1971. Felizmente, a tentativa foi malsucedida. Segundo seu biógrafo Donald Richie , não é incomum que intelectuais e artistas japoneses ajam dessa forma ao sentir que chegaram ao fim de seu tempo de produtividade artística. Kurosawa estava com 61 anos e sentia-se exausto com essas tensões e incompreensões da indústria cinematográfica que tolhia sua criatividade.
O que consta é que, após essa crise profunda, Kurosawa mudou bastante seu jeito de ser e passou, inclusive, a ser menos avesso à imprensa, à mídia em geral, tornando-se mais complacente em suas relações profissionais. É, após essa crise pessoal, ele atendeu a uma oferta de realizar um filme na União Soviética (estamos em 1972, portanto, ainda existia a URSS), já que ele não encontra espaço para filmar novamente no Japão. Foi assim que filmou o belíssimo Dersu Uzala.

Filmografia do Diretor:
1943 — Sugata Sanshiro
1944 — A Mais Bela
1945 — Sugata Sanshiro - segunda parte
1945 — Aqueles que pisaram na cauda do tigre
1946 — Os que constróem o amanhã
1946 — Não Lamento Minha Juventude
1947 — Um Domingo Maravilhoso
1948 — O Anjo Embriagado
1949 — Duelo silencioso
1949 — Cão Danado
1950 — Escândalo
1950 — Rashomon (ganhou o Leão de Ouro no Festival de Veneza e o Oscar)
1951 — O Idiota
1952 — Viver
1954 — Os Sete Samurais (ganhou o Leão de Prata no Festival de Veneza)
1955 — Crônica de um Ser Vivo
1957 — Trono Manchado de Sangue
1957 — Ralé
1958 — A Fortaleza Escondida (ganhou o Urso de Prata, no Festival de Berlim)
1960 — O Homem Mau Dorme Bem
1961 — Yojimbo
1962 — Sanjuro
1963 — Céu e Inferno
1965 — O Barba Ruiva (ganhou o prêmio OCIC no Festival de Veneza)
1970 — Dodeskaden
1975 — Dersu Uzala (ganhou o Oscar de melhor filme estrangeiro)
1980 — Kagemusha - A Sombra de um Samurai (teve produção e George Lucas e Francis Ford Coppola, ganhou dois prêmios Bafta, o prêmio César e a Palma de Ouro em Cannes)
1985 — Ran (ganhou o Cesar, o Bafta, além da indicação ao Oscar de Melhor filme estrangeiro)
1990 — Sonhos
1991 — Rapsódia em Agosto
1993 — Madadayo


Sua carreira como um todo foi premiada no Oscar honorário (1990) e com o Leão de Ouro, no Festival de Veneza.

Diálogo com a Literatura
Kurosawa era apaixonado por literatura, especialmente a literatura russa, sendo Dostoiéviski seu autor predileto. Muitos dos seus filmes tiveram seus roteiros adaptados da literatura. Alguns exemplos: Duas de duas obras foram baseadas em Macbeth, de William Shakespeare: Os Sete Samurais (1954) e Trono Manchado de Sangue (1957) Rashomon (1950), baseado em 2 contos de Ryunosuke Akutagawa; O Idiota (1951), baseado em Fiódor Dostoiéviski; Ralé (1957), baseado numa peça de Máximo Gorki; O Barba Ruiva (1965), baseado em pequenas histórias de Shugoro Yamamoto e incorporando elementos do romance “Humilhados e Ofendidos” de Dostoiévski; Ran (1985), baseado em “O Rei Lear”, de William Shakespeare.


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