28.01.2016
Por Marialva Monteiro (*)
Vale começar com um depoimento do próprio diretor do filme. Disse Adirley Queirós: "Nossa determinação era fazer um filme político, que questionasse, que fosse para o enfrentamento. Talvez tenha sido a parte mais deliberada, mais planejada. É uma vingança contra o Estado, o Governo, a polícia. Equipe e atores eram motivados a fazer um filme em que iríamos pra frente do opressor." E, completa Queirós: “nós não queríamos fazer um documentário clássico. Queríamos uma coisa mais próxima do apocalíptico, de uma volta do futuro. Aí surge a ideia da ficção”.
O filme é ambientado na Ceilândia, onde mora o cineasta e que também já foi cenário do seu filme anterior “A cidade é uma só?”.
O nome Ceilândia vem da sigla CEI – Campanha de Erradicação de Invasões criada com intuito de abrigar as famílias dos operários da construção de Brasília que viviam em ocupações irregulares. Foram demarcados vários lotes para a transferência dos moradores. O pai do cineasta foi sorteado com um deles. Hoje são 398.374 habitantes e é a região administrativa de maior população do Distrito Federal.
O filme parte de um episódio real ocorrido num baile de “black music”, em 1986, em Brasília, mas não é um documentário. O episódio é apenas reconstituído por fotografias.
A frase “branco sai, preto fica” é pronunciada por um policial que invade o local deixando vários feridos e, como consequência, deixa um jovem com a perna amputada e outro paralisado da cintura para baixo.
Apesar do baixíssimo orçamento o filme inova tanto na forma como no conteúdo.
Marquim, paraplégico trabalha como Dj numa rádio da periferia e Sartana, com uma perna mecânica é um esperto eletricista e conhecedor de maneiras de reformar pernas mecânicas. Cravalança, um terceiro personagem, vem do ano 2073 para buscar provas sobre o episódio do baile.
Impossível dizer qual o gênero do filme porque o autor mistura sabiamente documentário, ficção e ainda ficção científica.
O plano final dos três heróis é fazer uma bomba para explodir os prédios dos Três Poderes. Mas, como não se trata de um filme comercial americano, com milhões no orçamento e especialistas em mirabolantes efeitos especiais, Adirley Queirós inventa um final surpreendente e muito criativo, que não vamos contar para não tirar a surpresa daqueles que ainda queiram ver o filme.
(*) Artigo escrito a pedido de Cláudia Mogadouro, por conta da discordância saudável de Marialva Monteiro quanto à avaliação de João Moris sobre o filme Branco Sai, Preto Fica, de Adirley Queirós, no artigo Cinema Brasileiro em 2015, que pode ser lido no link: http://www.grupocinemaparadiso.com.br/2016/01/cinema-brasileiro-em-2015.html
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