PERLIMPS na comemoração de 28 anos do Grupo Cinema Paradiso

 09.07.2023
Por Cláudia Mogadouro

Por que escolhemos uma animação para a comemoração de aniversário do Grupo Cinema Paradiso? A resposta é simples.

O Grupo Cinema Paradiso, criado em 1º de Julho de 1995, é composto de pessoas adultas de diversas idades e ocupações, que se reúnem quinzenalmente para debater filmes.

No início do grupo, durante os encontros presenciais, era comum haver crianças presentes na sala ao lado da reunião ou no quintal. Enquanto brincavam, faziam uma “reunião paralela”, respeitando o momento dos adultos, mas às vezes uma bola entrava pela sala...

Às vezes, durante as reuniões, um bebê mamava ou dormia no carrinho enquanto os adultos conversavam.

Várias vezes, adolescentes participavam dos debates, especialmente quando o tema do filme em questão lhes era caro, como foi o caso de Bicho de Sete Cabeças (de Laís Bodansky, 2000), ou Cidade de Deus (de Kátia Lund e Fernando Meirelles, 2002), ou acompanhavam seus pais e opinavam também.

Certa vez, a saudosa cachorra Manu, por medo da chuva, quis entrar na sala e ficou bem quietinha “assistindo” à reunião. O mais engraçado é que estávamos discutindo Adeus à Linguagem (de Jean-Luc Godard, 2014) e Manu era uma cachorra idêntica ao cachorro do filme de Godard. Manu, “participando” do debate, rendeu muitas risadas naquele domingo.

A cachorrinha Manu, com medo da chuva, no debate sobre Godard

Debates sobre longas de animação fazem parte da história do grupo, mas são casos muito raros nesses 28 anos de existência. Certa vez, num mês de férias no início dos anos 2000, quando vários participantes do grupo tinham filhos pequenos, escolhemos a animação A Fuga das Galinhas (de Nick Park e Peter Lord, 2000). Foi um agrado para as crianças que pacientemente acompanhavam a reunião dos adultos.

Os filmes de animação Valsa com Bashir (de Aru Folman, 2009) e Uma História de Amor e Fúria (de Luiz Bolognesi, 2013) também renderam excelentes debates, mas não são filmes pra crianças.

Quando, no início de 2014, propusemos que o filme escolhido fosse a animação O Menino e o Mundo, de Alê Abreu, houve um estranhamento. De imediato, o grupo resistiu e escolheu um “filme adulto”. Na reunião seguinte, diante da insistência e de muitas críticas favoráveis na imprensa, o grupo finalmente aceitou. O debate foi extraordinário, dos mais polêmicos e densos. Como era possível que uma animação para crianças também abordasse tantos temas contemporâneos importantes?

O impacto de O Menino e o Mundo no grupo foi tão intenso que escolhemos o mesmo filme para a comemoração dos 19 anos do grupo, no CineSesc. Alê Abreu, que colecionava diversos prêmios internacionais com o filme, incluindo o de Annecy (o mais importante festival de animação do mundo) compareceu à nossa comemoração em agosto de 2014 e fez um debate inesquecível.

Neste ano de 2023, quando comemoramos 28 anos de existência, de reuniões quinzenais ininterruptas, a escolha de PERLIMPS, de Alê Abreu (2022) tem muita razão de ser. Além do carinho que temos por Alê Abreu, precisamos de um filme que fale de luta, de resistência, mas também da importância do diálogo e da cultura de paz. Precisamos de uma obra que nos emocione e lave nossos olhos e nossa alma da imensa dor que nos assolou nos últimos anos.

O Grupo Cinema Paradiso é, sem dúvida, um grupo de RESISTÊNCIA e DIÁLOGO. Essas duas vertentes que estão em sua raiz já bastam para assistir e debater PERLIMPS.

Crianças e adolescentes serão muito bem-vindos em nosso evento de aniversário no próximo dia 13 de julho no CineSesc. É com imensa alegria que teremos novamente conosco a presença de Alê Abreu. Infelizmente, os cachorrinhos, como Manu, não poderão entrar no cinema.

Abaixo, a sinopse sem spoiler, escrita por nosso querido Marcos Eça Pinheiro, e a filmografia de Alê Abreu.

Cena da animação Perlimps. Foto: Divulgação

- Bruô, por que estamos brigando mesmo?
- Já nem lembro.

PERLIMPS

Brasil, 2022, 80 min, livre

Direção e Roteiro: Alê Abreu

Elenco (vozes): Bruô (Giulia Benite), Claé (Lorenzo Tarantelli), João de Barro e Narrador (Stênio Garcia), Pai e soldados (Nill Marcondes) Mãe (Rosa Rosan).

Sinopse:
Perlimps? Quem são eles? De onde vêm? Onde estão? O que fazem? Qual o significado desse nome diferente? Uma aventura cheia de cores e sons nos envolve no Bosque Sagrado em que Claé e Bruô, mesmo pertencendo a reinos contrários, acabam se unindo em nome da sua missão secreta. Nossos personagens também não entendem, a princípio, qual é sua missão e o que os perlimps têm a ver com ela. Muitas perguntas são feitas na nova animação do diretor Alê Abreu, que nos permitem muitas reflexões sobre os temas do mundo e do Brasil contemporâneo. As respostas às questões nem sempre estão garantidas…

Segundo entrevista do diretor, o título foi uma sugestão de Luiz Bolognesi, um dos produtores da animação, a partir da combinação dos nomes Pirilampos e Gremlins (personagens do longa Gremlins - O Pequeno Monstro, de 1984).

Sobre o diretor: Alê Abreu é desenhista, cineasta, artista plástico, multi-artista. Nasceu em São Paulo, em 6 de março de 1971. A partir de um curso que fez no MIS (Museu da Imagem e do Som - SP), realizou seu primeiro filme, Memória de Elefante, em 1984. Na década de 1990, formou-se em Comunicação e produziu os curtas metragens Sírius (1993) e Espantalho (1998). Alguns anos depois, realizou outro curta Passo (2007) e seu primeiro longa-metragem Garoto Cósmico (2007). Em 2014, lançou O Menino e o Mundo, filme vencedor de dezenas de prêmios, entre eles o prêmio da crítica e do público no Festival de Annecy e o Annie Awards, como melhor animação independente. Foi indicado ao Oscar 2016 de Melhor Animação (longa-metragem).

Após O Menino e o Mundo, começou a trabalhar na pré-produção de seu novo filme Viajantes do Bosque Encantado (mais tarde renomeado Perlimps) e na supervisão artística da série Vivi Viravento, com direção de Priscilla Kellen.

No YouTube é possível encontrar uma série de “pílulas” do making of. O link abaixo traz a pílula nº 1. É fácil encontrar todas as outras. https://www.youtube.com/watch?v=kc-agiJocHE

No youtube, o site Omelete apresenta uma entrevista com o diretor Alê Abreu, Laís Bodanzky (uma das produtoras do filme), a atriz e o ator que fazem as vozes e André Hosoi, que assina a trilha musical. https://youtu.be/3fGQDfNB6Bk

Para quem quiser conhecer um pouco ou se aprofundar no filme O Menino e o Mundo, de Alê Abreu (2013), em nosso site há um artigo de Cláudia Mogadouro sobre o filme: https://www.grupocinemaparadiso.com.br/2016/01/o-menino-e-o-mundo.html

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