DIÁRIOS DO FESTIVAL DE ROTERDÃ (IFFR)

23.01.2019
Por João Moris, de Roterdã

Começou hoje em grande estilo a 48ª edição do Festival Internacional de Cinema de Roterdã (IFFR), um dos mais importantes festivais de filmes independentes do mundo, que anualmente exibe em média 500 filmes de todos os cantos do planeta. O festival dura 11 dias e é um grande evento no calendário cultural de Roterdã e da Holanda.

A imensa sala de 2.200 lugares do edifício De Doelen – que serve de sede para o festival – ficou pequena em relação ao número de convidados para a noite de abertura. Com temperaturas abaixo de zero lá fora, o diretor do IRRF, Bero Beyer, fez um discurso caloroso e inspirado para uma plateia absolutamente atenta, honrando as artes e o Cinema em especial como fomentadores da emoção e da humanidade nas pessoas. Antenado com a situação do mundo, citou o Brasil ao falar da ascensão de líderes populistas e fascistas...

Aliás, foi uma surpresa para mim contabilizar mais de 40 filmes brasileiros no IFFR 2019 (30 curtas e médias metragens e 13 longas). Sinal de que o cinema nacional é cada vez mais reconhecido no exterior, enquanto que em casa é cada vez menos prestigiado e visto. Vários filmes brasileiros na programação de Roterdã deste ano fazem parte de mostras paralelas sobre as questões raciais na perspectiva da negritude do Brasil. Assim sendo, há muitos diretorxs negrxs exibindo suas obras no festival, como a cineasta baiana Safira Moreira, que com o poético curta Travessia, sobre as memórias afetivas de sua família, abriu o IRRF nesta noite. O filme e a diretora foram longamente aplaudidos. Que orgulho ver estes jovens brasileiros brilhando no exterior!

O festival conta ainda com uma pequena retrospectiva dos filmes do ator, cineasta e ativista Zózimo Bulbul (1938-2013), que foi o primeiro diretor negro brasileiro a abordar a questão racial no cinema de forma aprofundada. O seu documentário épico de 153 minutos, Abolição (1988), feito por ocasião dos 100 anos da assinatura da Lei Áurea, será exibido em sessões especiais seguidas de debate. Na mostra competitiva, concorrendo ao prêmio mais importante do IFFR – o Tiger Award – a estreia mundial do longa No Coração do Mundo, de Maurílio Martins e Gabriel Martins, co-fundadores do coletivo de cinema Filmes de Plástico, de Contagem (MG), que se tornou um polo importante do cinema independente no Brasil. 
Aguardem os próximos diários do Festival de Roterdã 2019. Por enquanto, deixo algumas fotos do evento...

Entrada do edifício De Doelen, sede do IFFR

Painel de cartazes no edifício sede com os slogans do IFFR

Parede no edifício sede com o logo do IFFR e coberta de cartazes (em papel!) dos filmes exibidos   

Abertura do IFFR 2019 no imponente auditório do edifício De Doelen   

Banners do IFFR estão espalhados pelas ruas da gélida e moderna Roterdã

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