DIÁRIOS DA BERLINALE 1

07.02.2019 
Por João Moris, de Berlim

Foi dada a largada à 69ª edição da Berlinale, um dos mais prestigiados festivais de cinema do mundo. Aqui tudo é superlativo: quase 400 filmes praticamente inéditos, 20.000 integrantes da indústria cinematográfica, 3.000 jornalistas de 130 países e uma legião de cinéfilos abarrotam os gigantescos cinemas e locais dos eventos do festival pelas ruas de Berlim, a cidade que já foi epicentro do nazismo e dos eventos da guerra fria, que culminaram na construção de seu vergonhoso muro, hoje é uma das cidades mais libertárias do planeta. 

Além de os filmes lançados na Berlinale se tornarem uma espécie de referência para outros festivais durante o ano, a organização do festival traz muitos filmes polêmicos e politizados de várias partes do mundo. Este ano, o júri internacional é encabeçado pela grande atriz e diva francesa, Juliette Binoche, juntamente com diretores, críticos e especialistas em cinema, entre eles o cineasta chileno Sebastián Lelio, de Uma Mulher Fantástica e Desobediência.

O Júri Internacional da Berlinale encabeçado pela atriz Juliette Binoche

Na coletiva de imprensa de apresentação do júri hoje, em resposta às perguntas dos jornalistas sobre o tom político da Berlinale, Juliette Binoche afirmou que “se é humano é político”. Segundo a atriz, há uma urgência no mundo em relação às questões humanas e os governos parecem não estar fazendo muito a respeito do assunto. Disse que o fato de cada vez mais mulheres fazerem filmes hoje é “altamente positivo”. Assim sendo, sete dos 17 filmes selecionados para a mostra Competição da Berlinale deste ano (que disputam os prêmios máximos Urso de Ouro e Prata), são dirigidos por mulheres. Segundo o diretor da Berlinale, Dieter Kosslick, o critério de seleção não foi baseado em gênero e sim na qualidade dos filmes. De qualquer forma, para Binoche, tantas mulheres participando de mostras competitivas era impensável há 10 anos. 

De fato, a preocupação da Berlinale com questões políticas e de gênero é notória. Desde 2004, o festival faz uma “avaliação de gênero”, disponível em seu site, contendo a participação de mulheres na produção, criação e direção de filmes exibidos no festival. Também, desde 1997, a Berlinale tem um júri independente avaliando e premiando filmes com temática LGBT. Hoje, o Teddy Award é um dos prêmios mais prestigiados do festival. E este ano, a Berlinale é signatária da “The Berlin Declaration of the Many”, um manifesto de artistas e instituições de Berlim pela livre expressão artística, contra a perseguição à arte por grupos populistas de extrema direita, que pregam a censura e  violam manifestações artísticas. O manifesto em inglês está disponível no link: https://www.berlinale.de/en/im_fokus/berlinale_themen/erklaerung_der_vielen/erklaerung_der_vielen.html

Como se vê, não é só no Brasil que as artes estão ameaçadas por movimentos retrógrados e fascistas.

Mas, o filme que abriu a Berlinale na noite de hoje, a produção dinamarquesa-canadense The Kindness of Strangers, da diretora Lone Scherfig, não parece fazer jus ao tom político adotado pelo festival. Foi exibido em várias sessões à imprensa e ao público durante o dia, mas é um filme bastante convencional na linguagem e na narrativa. Conta a história de personagens “perdidos” na cidade grande, cujas vidas se entrelaçam e, indiretamente, todos acabam se ajudando. Você já viu este filme antes e eu também!

Cena do filme The Kindness of Strangers

Esperamos que os filmes da Berlinale nos próximos 10 dias sejam mais contundentes e inovadores. Mandarei mais notícias.

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