08.05.2017
por João Moris
Mostra internacional
A maioria dos filmes da competição internacional exibidos no BAFICI 2017 veio de países latino-americanos, mas houve muitos filmes dos EUA e Canadá, da Europa, principalmente Espanha, França e Itália, e do Oriente, principalmente Coreia do Sul. Alguns filmes exibidos no Festival já foram lançados comercialmente ou em festivais no Brasil.
O Brasil trouxe 14 filmes ao Festival, a maioria inédita no País, sendo que dois filmes receberam prêmios e menções honrosas no BAFICI deste ano: o aguardado documentário de João Moreira Salles, No Intenso Agora, e o longa de ficção A Cidade do Futuro, de Cláudio Marques e Marília Hughes. Fora as duas coproduções Brasil-Argentina, mencionadas no Link 3, não assisti a nenhum outro filme brasileiro no Festival.
A mostra internacional exibiu filmes bem mais ousados na forma e no conteúdo do que a mostra argentina, além de filmes com mais diversidade de temas, inclusive sobre a questão de gênero, raça e etnia. Curiosamente, o BAFICI deste ano trouxe poucos filmes com a temática LGBTQ.
Entre os diretores de renome na cena independente mundial, o BAFICI 2017 exibiu filmes do diretor alemão-turco Fatih Akin, do coreano Hong Sang-soo, do japonês Kiyoshi Kurosawa, do espanhol Albert Serra, do mexicano Amat Escalante, do finlandês Aki Kaurismäki, do basco Alex de La Iglesia, do checo Jan Nemec, do francês Stéphane Brizé, do chileno Ignácio Agüero, do português João Botelho, da italiana Lorenza Mazzetti, entre outros.
Abaixo, alguns filmes internacionais que assisti no BAFICI e que se destacaram:
Newton (dir. Amit V. Masurkar – India) - Este filme indiano é uma delícia de assistir. Trata-se de uma sátira política em que Newton Kumar, um funcionário público novato e idealista, é designado a conduzir as eleições e instalar as urnas eletrônicas num povoado remoto no meio da selva na região central da Índia, território de guerrilheiros maoístas e população indígena. Nem tudo sai como o zeloso funcionário espera, mas o filme traz uma reflexão sobre como a democracia funciona em países em desenvolvimento, que foram colonizados ou dominados por regimes autoritários por muitos anos.
Medea (dir. Alexandra Latishev Salazar – Costa Rica) - Um longa metragem vigoroso sobre uma jovem de classe média de 25 anos que mora com os pais, joga rugby, de personalidade forte, que vive sua sexualidade com a máxima liberdade e se descobre grávida. Ela faz de tudo para esconder a gravidez de todos à sua volta, inclusive dela mesmo. Filme direto e complexo, um ótimo recorte da juventude atual.
El Bar (dir. Alex de La Iglesia – Espanha/Argentina) - O novo filme do radical diretor basco Alex de La Iglesia conta a história de um grupo totalmente heterogêneo de pessoas, que ficam presas num bar nada glamoroso no centro de Madri quando dois frequentadores são alvejados e mortos na porta. Atônitas, essas pessoas descobrem que terão de se virar por conta própria contra o perigo que vem de fora. Um filme de humor negro sobre paranoia, terrorismo, guerra bacteriológica e, em última instância, sobre vínculos de confiança entre as pessoas.
Carroña (dir. Sebastián Hiriart – México) - Um ótimo exemplar do cinema mexicano moderno, que vem despontando como um dos mais vibrantes da América Latina. Conta a história de um casal que viaja a um paraíso tropical remoto na costa mexicana com a intenção de reavivar sua relação, mas com o passar dos dias, essas férias idílicas se transformam em pesadelo ao se envolverem num triângulo amoroso que se desenrola de maneira violenta e inesperada. Um filme instigante.
Abrazame Como Antes (dir. Jorge Ureña – Costa Rica) - Mais um belo representante da Costa Rica, o filme é um dos poucos do BAFICI deste ano a tratar da questão da identidade de gênero. Conta a história de uma mulher transgênero que trabalha nas ruas de São José e, no caminho de um programa com clientes, o carro em que está atropela um adolescente. Penalizada, ela leva o rapaz para a sua casa e passa a cuidar dele. A história destes dois estranhos se entrelaça sem nunca cair no previsível.
Dhogs (dir. Andrés Goteira – Espanha) - Um filme espanhol indie que causa estranhamento e desconforto. Todo falado em galego, Dhogs trabalha no limite da ficção ao mostrar três histórias aparentemente desconexas, que na verdade são criadas por um escritor jogando um videogame que manipula o destino dos personagens das histórias. O filme combina o absurdo, o erotismo e a violência e é permeado por um clima de anomalia.
Goodbye Berlin (dir. Fatih Akin – Alemanha) - Um filme menos transgressor do diretor alemão de origem turca Fatih Akin, mas não menos intenso. Dois adolescentes marginalizados na escola (um alemão inseguro e certinho e um oriental “fora da curva”) fogem de Berlim num velho carro russo e juntos descobrem a força e a alegria da amizade. Baseado no romance Tschick, que foi um best seller na Europa.
Viejo Calavera (dir. Kiro Russo – Bolívia/Qatar) - Filme boliviano muito elogiado em festivais e com razão. Situado entre a ficção e o documentário, conta um pouco o cotidiano dos mineiros no povoado de Huanuni e de Elder, cujo pai mineiro veterano morreu e ele tem de morar com a avó. Elder está sempre bêbado e metendo-se em encrenca. Os próprios mineiros atuam no filme, que tem uma fotografia deslumbrante e a cena final ao som de um adágio barroco executado por uma clarineta é belíssima.
Drum (dir. Keywan Karimi – Irã/França) - Dirigido por um cineasta iraniano de origem curda, o filme traz uma visão sombria da vida em Teerã e dos meandros da sociedade iraniana. Um homem confia um pacote a um advogado que trabalha e vive só em seu apartamento. No dia seguinte, o apartamento é saqueado e ninguém parece disposto a ajudar o advogado, muito menos a polícia. Quando sua noiva é apunhalada, a sede de vingança levará o advogado até um figurão da política. Final surpreendente.
KFC (dir. Le Binh Giang – Vietnã) – Não se vê muitos filmes vietnamitas pelas telas de cinema do mundo, muito menos quando o filme é uma mistura hardcore de Old Boy e Silêncio dos Inocentes. Com uma atmosfera sórdida, o filme mostra uma série de encadeamentos de personagens que se matam e se vingam uns dos outros de forma ultraviolenta até chegar à mente sinistra por trás destes acontecimentos. O final macabro fará com que muitas pessoas nunca mais pisem num restaurante KFC. Para os aficionados do cinema oriental, mas certamente não para os de estômago fraco. Um dos filmes mais repugnantes da história do cinema!
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