41ª Mostra Internacional de São Paulo
Filme: Caminhando com o Vento

18.10.2017
Por H. Hirao

Caminhando com o Vento
Walking with the Wind

Direção: Praveen Morchhale
Índia, 2017, 79 minutos

Há alguns anos, minha filha, ainda pequena, disse que não gostava de filmes iranianos porque tem crianças sofrendo e muita areia. Bom, na época, isso era verdade. Filmes como Onde Fica a Casa do Meu Amigo? (1987), de Abas Kiarostami, O Balão Branco (1995), de Jaffar Panahi, ou Tartarugas Podem Voar (2004), de Bahman Ghobadi, trazem crianças em situações difíceis e se passam em regiões montanhosas e desérticas. Na verdade, colocar crianças atuando nos filmes era uma forma de driblar a censura do país. Com personagens inocentes, histórias simples e narradas de forma direta para que todos entendam, podia-se tratar de assuntos mais sérios usando metáforas ou alegorias.

Logo no início de Caminhando com o Vento há uma dedicatória ao autor Abbas Kiarostami e, de fato, parece que estamos assistindo a um dos primeiros filmes do grande mestre. A diferença é que a história se passa em algum lugar no norte da Índia, perto da cadeia dos Himalaias, uma região com paisagens muito parecidas com as do Irã. Tsering, de 10 anos, acidentalmente quebra a cadeira de um colega da escola. Ele decide lavá-la para consertar em sua aldeia, que fica a sete quilômetros de distância da escola. Sobre seu burrico, ele percorre caminhos tortuosos atravessando as montanhas. A viagem se torna um road movie. Tsering busca pessoas que poderiam ajudá-lo a reparar a cadeira, mas ninguém o leva a sério. O caminho, cheio de ladeiras, buracos e pedras, representa o esforço do menino para corrigir seu erro, há uma obrigação moral que ele precisa cumprir. Assim são os ritos de passagem, o protagonista cresce, torna-se um adulto consciente e responsável. Também é possível enxergar um retrato social representado pelas pessoas que Tsering encontra. Ao mesmo tempo, o filme faz uma crítica a algumas características negativas que os adultos expõem como a falta de solidariedade, a arrogância, a visão estereotipada, o poder do dinheiro e a influência da religião. 

Provavelmente não conseguirei convencer minha filha a assistir esse filme, mas é imperdível para os fãs de Abbas Kiarostami e do cinema iraniano… mesmo que seja indiano.

► Cine Caixa Belas Artes, sala 3, dia 20/10/17 (sexta), às 19h50 (Sessão 94)
► Espaço Itaú de Cinema Frei Caneca, sala 2, dia 21/10/17 (sábado), às 13h30 (Sessão 229)
► Circuito SPCine Olido, dia 01/11/17 (quarta), às 17h00 (Sessão 1325)


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